terça-feira, 10 de novembro de 2009

Vinculação

A teoria da vinculação e das perturbações da vinculação foi desenvolvida a partir de 1950 por John Bowlby. A vinculação precoce (0-3 anos) é um comportamento inato dos primatas e em particular dos humanos. Neste sentido, desde o nascimento e ao longo do primeiro ano de vida, o bebé começa a estabelecer uma relação privilegiada com o adulto que lhe proporciona cuidados básicos e desse modo, assegura a sua sobrevivência. Ao realizar com regularidade essas funções o adulto tenderá a tornar-se uma figura de vinculação. Será capaz de proporcionar uma base de segurança quando o bebé revela algum tipo de desconforto nomeadamente mal-estar ou medo. Depreende-se desta forma que a relação de vinculação poderá ser compreendida na medida em que o adulto seja capaz de garantir um ambiente seguro a um ser que procura protecção e que a percebe no outro que considera mais forte e mais apto. Trata-se pois duma relação assimétrica. Ainsworth (1985) clarificou este conceito com base nos seguintes critérios:
• É persistente e não transitória;
• Envolve uma figura específica e reflecte uma atracção
que um individuo tem por outro indivíduo;
• Trata-se de uma relação emocionalmente significativa;
• O indivíduo deseja manter a proximidade ou contacto
com essa figura, ainda que tal possa variar em função de
vários factores, como a idade, o estado do indivíduo ou
as condições do meio;
• O indivíduo experiencia uma certa perturbação face a
uma situação de separação involuntária e, sobretudo,
quando deseja a proximidade e tal não lhe é possível.
A protecção baseia-se, essencialmente, na proximidade física e no contacto entre a mãe e o bebé nos primeiros anos de vida. Os comportamentos de vinculação têm por objectivo promover a proximidade e segurança nomeadamente o sorriso e a vocalização e mais tarde o agarrar e gatinhar visam o estabelecimento do laço ou vinculo.
A relação de vinculação distingue-se das outras relações sociais por quatro características:
• Reacções marcadas perante a separação involuntária.
• Sentimento de segurança.
• Comportamento de refúgio.
• Procura de proximidade

Desenvolvimento do sistema de vinculação:
Dos 0 aos 6 meses:
O bebé põe em acção os processos de discriminação em que discrimina a mãe de entre todos e mais tarde por volta dos 6 meses discrimina o 3º elemento – o pai.
Dos 6 meses aos 3 anos
Entre os 7 e os 9 meses a criança distingue os familiares dos estranhos, nesta fase é natural que a criança não queira ir para o colo de estranhos – é bom que estranhe!
Nesta fase as crianças começam a entender as relações de causa efeito.
Após os 3 anos
A criança desenvolve uma vontade própria e uma compreensão das intenções do outro. O aumento das capacidades cognitivas da criança permite-lhe suportar o afastamento da figura de vinculação.
Tipos de Vinculação:
Vinculação Segura:
• A criança utiliza a mãe como base de segurança a partir
da qual explora o meio.
• A criança chora com pouca frequência no entanto, nos
momentos de separação mostra-se perturbada e não é
reconfortada por outras pessoas.
• Nos reencontros com a mãe, a criança saúda-a
activamente, sinaliza-a e procura o contacto com ela.
• Existe equilíbrio entre os comportamentos de vinculação
e de exploração.
Vinculação Insegura Ambivalente:
• A criança permanece junto da mãe, aparenta alguma
ansiedade e explora pouco o meio.
• Nos momentos de separação a criança mostra-se muito
perturbada.
• Nos reencontros com a mãe o comportamento da criança
pode alternar, entre tentativas de contacto e contacto com
sinais de rejeição (empurrar, pontapés…)
• Após o reencontro com a mãe, a criança fica vigilante.
• Os comportamentos de vinculação predominam face aos
comportamentos exploratórios.
Vinculação Insegura Evitante:
• A criança permanece mais ou menos indiferente quanto à
proximidade da mãe e entrega-se
à exploração do meio.
• Na ausência da mãe a criança pode chorar ou não e, se
ficar perturbada é provável que outras pessoas a
consigam reconfortar.
• Nos reencontros com a mãe, a criança desvia o olhar e
evita o contacto com ela.
• Os comportamentos exploratórios prevalecem face aos
comportamentos de vinculação.
Vinculação Desorganizada:
• O comportamento da criança parece não ter um objectivo
claro ou uma explicação.
• A criança executa movimentos incompletos,
estereotipados e paragens.
• A criança manifesta medo da mãe e alguma confusão ou
desorientação.

A vinculação segura proporciona à criança uma maior disponibilidade de fazer mais aprendizagens, uma vez que se sente segura, a criança canaliza a sua energia psíquica para a exploração do meio que a rodeia. As mães de crianças seguras revelam-se empáticas face às necessidades da criança, sendo que identificam os sinais da criança e reagem pronta e adequadamente à sinalização. Avaliam o cuidado a prestar à criança, principalmente, em função da situação e do temperamento da criança. São por norma mães disponíveis, carinhosas e cooperantes.
Paula Caleça (Psicóloga Educacional)

Sem comentários:

Enviar um comentário